terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.(Luís Fernando Veríssimo
"...A vida da gente se assemelha muito a uma colcha de retalhos. É feita de pequenos pedaços presos um ao outro, cada um com sua cor, mais ou menos macios, alegres ou tristes. O resultado depende do acabamento que damos, de como aproveitamos cada pedacinho das sobras que a vida nos dá. Cada um contém uma história, com começo, meio e fim. Alegrias, tristezas, realizações e fracassos, horas de pouco, momentos de muito. São os nossos pedaços, a riqueza pessoal de cada um, a história que se construiu. E há os retalhos que se jogou fora por desperdício ou por não se saber que um dia nos fariam falta.
Depois de um tempo pode-se visualizar a colcha de retalhos que já se conseguiu montar. Umas são coloridas, com muito vermelho, efeito de muitas paixões ou quem sabe escuras, com muitas partes onde predominaram retalhos de cor preta, demarcando os momentos inevitáveis de tristeza e dor. Mas há os retalhos brancos, talvez sobras românticas do vestido de noiva, o azul do pequeno casaquinho de bebê do nosso primeiro filho, quem sabe o retalhinho cor- de- rosa da blusinha que nossa filha vestiu no aniversário de um ano. Em um canto está o amarelo-ouro lembrando o pé de bergamotas maduras, caindo às pencas e ao alcance de nossas mãos gulosas, retalhos de felicidade infantil.
Assim, dentro de cada um existe uma colcha de retalhos. Cada vez que vem à lembrança uma história vivida é um daqueles pedacinhos que aparece mais que os outros, que se impõe e nos faz falar dele às vezes com tristeza, mas sempre com saudade..."